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Yo soy un lutador social

Para muitos o dia 11 de setembro apenas e tão somente relata a tragédia havida em 2001, quando dois aviões de companhias aéreas estadunidenses chocaram-se contra as torres do World Trade Center em Nova Iorque. Contudo, o pior dos 11 de setembro, se me permitem, não foi aquele.

Pela grande maioria esquecido, ou talvez não sabido, se me recordo não estudei isso no colégio, 11 de setembro de 1973, foi o trágico dia onde parte da América Latina sangrou (e sangra até hoje). De forma covarde os militares chilenos sitiaram Valparaiso e, depois, com aviões, bombardearam o Palácio La Moneda em Santiago, sede do governo do presidente Salvador Allende, tomado o poder, após o suicídio (duvido) deste último.

Para os jovens, digo que Salvador Allende foi uma espécie de libertador. Daqueles que não vemos mais. Médico formado e engajado na causa social, foi o presidente eleito pelo povo, primeiro marxista a tomar o poder pelas urnas. Além de estatizar o cobre, riqueza maior do país, o presidente buscou fazer a reforma agrária, reduzir as enormes desigualdades sociais e divulgar, na América Latina, o socialismo como alternativa ao imperialismo capitalista de acumulação de riquezas nas mãos de pouquíssimos.

As conseqüências, contudo, de seus atos foram graves. Não apenas para o “seu” Chile, mas especialmente para todos nós. Ora enfrentar o dinheiro não é fácil. O Chile sofreu com o embargo econômico. Os remédios começaram a ficar escassos, parte dos alimentos também. Mas o povo chileno apoiava seu presidente e acreditava nele e em seus discursos retos, libertadores e muito coerentes.

Allende se intitulava marxista e dizia que eram os jovens que tinham o dever de fazer a revolução. E que é uma contradição um jovem não ser revolucionário, pois que ele igualmente está em transformação. Pregava uma revolução social que incluísse a todos e não apenas a pequeníssima parte da população que tinha acesso aos estudos e que apenas sabia da existência das minas de cobre pelo jornal. Liderou estes mesmos jovens em uma resistência intelectual à alternativa excludente, sempre tendo por objetivo o acesso de todos à casa, comida, escola, conhecimento, universidade, terra… vida e ao amor à vida. Os bens materiais eram (ou deveriam ser) de todos, de todos os chilenos.

Mas eu me pergunto: o que há de errado nisso? Tudo!

Com apoio das elites internas os militares preparados na escola de ditadores norte-americana, tomaram o poder e terminaram de vez com o sonho socialista na América do Sul.

Hoje, passados quarenta anos, apenas nos lembramos das torres gêmeas (em minúsculo) e não do Golpe Militar havido em Santiago. Se quatro ou cinco mil morreram em Nova Iorque, quantos seguem morrendo de fome no Chile? Quantos ainda vão morrer de fome e de desnutrição, sem médicos na América Latina? Se pararmos para pensar qual foi o pior golpe “terrorista”? Aliás, o que diferencia os primeiros dos últimos? O que diferencia a dita “Al Qaeda” dos militares chilenos educados por Washington?

A resposta é evidente. Mas não é evidente a divulgação que a imprensa dá para um e para outro. Se Salvador Allende não tivesse se suicidado (duvido que o fez), talvez o Chile seria o mesmo hoje…. talvez não. O certo é que o povo detém uma coisa chamada autodeterminação, ou seja, é ele quem escolhe quem manda nele e não as massas imperialistas do norte.

Saúdo a todos que sofreram e que ainda sofrem com a tragédia havida em 11 de setembro de …………..1973. Quanto a outra tragédia, antes de atirar, o certo teria sido pensar… ou melhor, repensar.

Rafael da Silva Marques
Juiz do Trabalho da 4ª Região

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