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Há um golpe militar em marcha no Brasil, alerta Vladimir Safatle

O poder não perdoa vácuos: em 2013 esquerda aderiu ao legalismo permitindo à extrema-direita dominar o discurso de ruptura correspondendo à ansiedade da população 
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Foto Agência Brasil
A democracia se sustenta em cima de um sistema de balanças, do seu rompimento são gerados os governos autoritários, ou fascistas. Mas não se engane, não é porque recebem esse nome que tais governos são impopulares, e o Brasil corre hoje risco de assistir ao esmagamento do equilíbrio de pesos e contra-pesos da sua frágil democracia.
A análise foi levantada pelo filósofo e professor Vladimir Safatle, no debate “O fim da era dos pactos: violência política e novas estratégias”, organizado pela editora Boitempo na última semana. Ninguém acreditava, ninguém levava a sério o discurso do nazismo e sua ascensão, foi o que o pensador e sociólogo alemão Theodor Adorno identificou ao tentar entender o fenômeno, lembrou Safatle.
“Era exatamente porque ninguém levava a sério, que o discurso podia circular, [um discurso] que tinha um lado cômico, ainda mais o fascismo italiano, e não é por outra razão que todas as figuras autoritárias que apareceram nestes últimos 15 anos são cômicas: Berlusconi, Trump, Sarkozy” e agora Bolsonaro, no Brasil.
Sem a ironia seria insuportável ter que se mobilizar levando a sério o discurso, fundamenta Safatle: “Dessa maneira você pode criar o modelo que foi o modelo da ditadura brasileira”, destacando a principal ironia do período de repressão que foi quando o país aderiu a todos os tratados internacionais de direitos humanos, enquanto o Estado praticava a tortura.
“Você pode criar esse jogo de aparência, que é o elemento fundamental para que essa situação se sustente”.
Mas a ascensão do fascismo não se faz apenas em cima do discurso irônico. O poder não perdoa vácuos. “Não existe crescimento da direita onde a esquerda não traia. E onde erramos? Em 2013”, completa o filósofo.
Naquele momento a esquerda deveria ter aderido ao discurso da radicalização, mas se tornou legalista. A extrema-direita, passou a assumir o discurso de ruptura das leis e contra o sistema político, tradicionalmente ligado às esquerdas.
“Essa posição foi inventada pela esquerda, era essa a nossa posição. Nós sempre fomos anti políticos, no sentido da política tal como ela funcionou até hoje, dentro do seu processo de legalidade normal”. Assista a seguir a íntegra da análise de Safatle.

 

Fonte: Jornal GGN

 

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