Trump amarga derrota eleitoral nos EUA, mas a luta popular deve continuar sob governo Biden
No último sábado (7), o candidato democrata Joe Biden foi declarado vencedor das eleições para presidente dos Estados Unidos.
Donald Trump, que perdeu a tão desejada reeleição, se recusa a reconhecer o resultado e ceder à vitória do adversário, com acusações de que houve fraude eleitoral no processo.
A realização desta saída só foi possível com muita mobilização popular. Não fossem movimentos como o BLM (Black Lives Matter), as grandes manifestações das mulheres e a repercussão negativa das políticas de migração na comunidade internacional, talvez Trump tivesse mais chances de se eleger.
Sua derrota significa uma vitória na luta contra o projeto da ultradireita. Afeta a outros governos, por dentro da estrutura da democracia burguesa e em nível internacional, e isola parceiros e semelhantes, como o presidente Jair Bolsonaro, que, inclusive, até o momento, não reconheceu a vitória de Biden e tem estremecido, assim, as relações diplomáticas com o país.
No Brasil, a derrota de Trump anima ainda mais o movimento organizado, que já vem se inspirando em outras lutas na América Latina, como a do Chile.
As eleições nos EUA potencializam, desse modo, o repúdio a Bolsonaro, que segue cada vez mais desgastado em terras brasileiras e no mundo.
Movimento anti-Trump – A conquista apertada – 50.75% contra 47.57% (dados atualizados em 10/11) – revela que o resultado para o pleito representa muito mais uma rejeição a Trump do que uma vitória para Biden.
Com cartazes com os dizeres “you’re fired” (você está demitido), “game over” (o jogo acabou) e outros similares, os atos de rua expressaram esse sentimento de que o que mais importava ali era o alívio de não ter mais Trump como presidente.
A explicação para que este seja o clima social vem da própria história de vida pública do democrata, que atuou na política incentivando projetos de encarceramento e deportações. Sua colega de chapa, Kamala Harris, foi uma escolha celebrada pelos executivos de Wall Street, que chegaram a falar publicamente sobre a decisão de nomeá-la como vice-presidente.
Isso se deve a sua relação próxima de doadores de campanha entre as grandes empresas de tecnologia, de Wall Street, de seguradoras de saúde e do mercado farmacêutico. A intenção da chapa, considerando as disputas internas no partido, é a de manter a ordem ideológica, econômica e política tão conservadora ou mais do que a gestão Obama.
Maior parte da população carcerária nos EUA é formada por negras e negros ou migrantes. Segundo pesquisa da Universidade norte-americana de Cornell, “entre afro-americanos, 63% possuem algum parente na cadeia, entre os hispânicos, a taxa é de 48%, e entre os brancos, 42%”. Quase metade dos americanos tem um familiar próximo que já foi preso.
Imigrantes – Embora a indignação internacional tenha vindo sob o governo de Trump, com as cenas chocantes de crianças presas em gaiolas, separadas de suas famílias, deve-se a Biden este recorde de deportações. Em sua trajetória pública, Biden apoiou deportações durante o governo de Barack Obama.
O movimento de direitos humanos em defesa dos imigrantes Raices Action chegou a intervir publicamente em um debate para as eleições presidenciais deste ano, denunciando que Biden havia deportado 3 milhões de pessoas quando vice-presidente.
Questão palestina – Biden não representa qualquer mudança política norte-americana em relação a questão palestina. Ele pretende, por exemplo, condicionar a retomada da ajuda financeira à Autoridade Palestina apenas se o pagamento da previdência social às famílias de presos políticos palestinos e de palestinos mortos por israelenses for cortado totalmente.
Sua relação com o estado de Israel é antiga. Membro ativo do AIPAC (Comitê de Relações Públicas de Israel), Biden tem um registro bem conhecido de 1986, quando disse no Senado que já era tempo de não pedir desculpas pelo apoio a Israel. Nesta ocasião, ele continua dizendo que o investimento de US $ 3 bilhões para Israel foi o melhor já feito pelos EUA. “Se não existisse o estado de Israel, os Estados Unidos da América teriam que inventar um Israel para proteger seus interesses na região”, afirmou.
E a ajuda financeira virou tradição. Anualmente, desde 86, Israel recebe dos EUA a quantia de US $ 3 bilhões para apoio militar.
Luta continua – Certamente muitos grupos tiveram importante participação nos resultados das últimas eleições no EUA, como o próprio movimento negro, o de imigrantes e de mulheres, que se colocaram constantemente contra os ataques do governo Trump ao longo de todo mandato.
No entanto, muitos deles, sobretudo do BLM – Black Lives Matters, reconhece que o sistema ainda é o mesmo, e que não beneficiará os mais pobres ou será justo com a classe trabalhadora.
O BLM afirma que a luta durante a corrida presidencial se deu pela saída de Trump, mas que ainda está longe de acabar. Eles enviaram solicitação de reunião com Biden e Harris para tratar das demandas do movimento.
O movimento de Chicago do BLM chegou a publicar em seu perfil no Twitter que a vitória de Biden não deve de modo algum acalmar os ânimos de luta. Eles explicitaram que Democratas e Republicanos representam dois tipos diferentes do capitalismo, sendo neoliberais ou fascistas, e em outro tweet, endossaram que a hora “é de mudar o sistema, e que ninguém do topo irá oferecer isso. É por nossa conta.”
Para Herbert Claros, do Setorial Internacional da CSP-Conlutas, “um governo para o povo não é uma opção dada por dentro da democracia burguesa nos EUA ou em qualquer lugar do mundo”.
“Viva a luta das trabalhadoras e dos trabalhadores norte-americanos. Dos pobres, negros, migrantes e mulheres que têm lutado, inclusive em meio à pandemia, contra o neoliberalismo, o racismo, o machismo, o capitalismo e a exploração! O imperialismo deve ser combatido e o poder tomado pelas mãos da classe trabalhadora”, complementa.
Fonte: CSP Conlutas