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Trabalhar até morrer? Tô fora!

A vida do aposentado nunca foi fácil no Brasil. A maioria dos idosos sempre teve de se virar para conseguir sobreviver com o ralo benefício recebido depois de 25 ou 30 anos de trabalho. Alvo fácil dos governantes, os direitos dos aposentados já foram surrupiados pela política de arrocho da Previdência adotada por governos das mais diversas colorações partidárias.

Agora, é a vez de Michel Temer (PMDB). A reforma da Previdência planejada pelo governo Temer é formada por um amontoado de medidas descabidas, já amplamente divulgadas. O que pouco se fala, justamente porque o governo tenta esconder, é sobre a realidade financeira da Previdência. Repetidas vezes o governo usa o falso argumento do déficit da Previdência na tentativa de justificar a reforma, mas é preciso esmiuçar os números para se chegar a uma avaliação completa e verdadeira.

A Previdência (junto com Saúde e Assistência Social) faz parte da Seguridade Social, que acumula superávit ano a ano. Em 2015, as sobras chegaram a R$ 11,1bilhões. E se este número não é maior, tenha certeza absoluta: não é por culpa dos aposentados. Quem suga boa parte das verbas da Previdência é a dívida pública e as desonerações fiscais. O próprio governo federal retirou R$63 bilhões da Previdência para pagar os juros da dívida, apenas em 2015.

Esse assalto se repete todo ano. Além disso, em 2016 o governo abriu mão de R$271 bilhões em desonerações fiscais e renúncias de receitas pertencentes à Seguridade Social. Esse dinheiro ficou no caixa de empresas, muitas delas multinacionais que demitiram trabalhadores. Se considerarmos esses dois ralos por onde escoa o dinheiro da Seguridade Social, chegaríamos a R$ 334bilhões a mais no superávit.

Há ainda há outro dado a ser considerado, embora Temer também tente camuflar. A contribuição paga pelos trabalhadores e empregadores é apenas uma das fontes de receita da Previdência. De propósito, o governo não fala das outras fontes oficiais, como a Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL), a Contribuição sobre Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e PIS/Pasep. Fica claro, então, que a reforma é injusta e desnecessária.

Os únicos a serem beneficiados com ela são os bancos, que se fartarão com as vendas de investimentos previdenciários. Não há como negar: as mudanças nas regras da aposentadoria funcionarão como um atalho para o desmonte da Previdência pública e a sua privatização.

Quem já se arriscou a calcular sua própria aposentadoria nos moldes da reforma sabe que o futuro é de um cenário de solador. As novas regras roubarão anos e mais anos de cada trabalhador. A idade mínima, estipulada em 65anos, é apenas uma referência. A verdade é muito pior. Dificilmente uma pessoa passa a vida inteira trabalhando sem ter ficado desempregada em algum momento.

Na ponta do lápis, esse período sem contribuição vai pesar muito na hora de conquistar o direito ao descanso. Fica aqui o desafio: assim que terminar de ler este artigo, acesse qualquer site ou aplicativo para cálculo da aposentadoria. Você vai se assustar com o resultado. Caso as medidas sejam aprovadas pelo Congresso Nacional, o País destruirá o mínimo de bem-estar social ainda existente.

A gravidade do quadro que se aproxima exige um grande esforço em defesa dos direitos previdenciários. Junte-se à luta do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e da CSP-Conlutas. Vamos dizer não à reforma. Ou você quer trabalhar até morrer?

 

por Antônio Ferreira de Barros (Macapá), presidente do Sindicato
Artigo publicado no Jornal O Vale
Fonte: sindmetalsjc.org.br

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