Um pouco da nossa história…
Um pouco da nossa história…
Em 65 anos de existência, nossa entidade passou por várias experiências e mudou muito, juntamente com a categoria, com o país, com o mundo. Se em sua fundação o sindicato cumpria uma função estritamente legal e formal, hoje ele é a ferramenta mais consistente que os trabalhadores têm em suas mãos, na luta contra a exploração.
A reviravolta em nosso sindicato não começou há muito tempo. Em 1984, no embalo das lutas que ocorriam em todo o país, contra o sindicalismo “pelego” e contra a ditadura, a oposição vence as eleições e começa a dar um novo rumo para a entidade. Desde então, lutas econômicas (campanhas salariais, contra o horário livre…) e políticas (nas várias mobilizações para influenciar a conjuntura nacional), se deram muitas vezes. A categoria começou a aprender na prática, que não há como melhorar a vida sem lutarmos unidos pelos nossos interesses. Começamos a entender que os interesses dos patrões e dos trabalhadores não podem ser conciliados.
Em 1993, assumiu nossa primeira diretoria em forma colegiada e não mais presidencial. Isso faz com que acabe a hierarquia deliberativa entre os diretores e possibilita maior participação de todas as secretarias, com seus respectivos coordenadores. Mas, como é natural, todo avanço gera novos desafios. O principal deles é implementar na prática o que formalmente já está garantido: a democracia em todas as instâncias de direção.
A diretoria colegiada é em si um grande desafio, mas existem outros. Um deles é a implantação daquilo que é a chave de um sindicalismo combativo: a organização por local de trabalho, em cada setor, em cada loja. Esta é a única forma de garantirmos que a base, que os trabalhadores sejam de fato os “donos” do sindicato. Isso depende da diretoria, mas fundamentalmente de cada comerciário.
Eleições de 1984 em Passo Fundo
A vitória de uma nova proposta sindical
Um grupo de comerciários, descontentes com a postura do sindicato, profundamente atrelado aos interesses dos empresários, iniciou um trabalho de conscientização e organização da categoria. Começaram com reuniões sistemáticas, depois, ampliando a discussão, promoveram encontros, cursos e reuniões sobre direitos do trabalhador e sindicalismo.
Dirigentes do sindicato conversam com policiais que acompanham mobilização contra abertura do comércio aos finais de semana – 1990Inspirados pela ação da Juventude Operária Católica (JOC), que se utilizava do método “ver, julgar e agir”, alguns comerciários definiram que já era hora de buscar uma ação mais concreta: formar uma oposição para disputar a direção do sindicato, ocupada há mais de vinte anos pelos mesmos membros, que se alternavam no poder. O grupo que já estava há 22 anos na direção do sindicato era candidato a mais um mandato e não tinha a intenção de disputar uma eleição, isso dificultou muito o acesso a informações que ajudariam na eleição.
O mandado de segurança
Um capítulo importante desta eleição foi a batalha judicial que envolveu a direção do sindicato e Leonilda Teresinha Fernandes, da chapa de oposição. Na reunião da direção do sindicato, dia 31 de março de 1984, presidida pela Sra. Maria Eliza de Almeida – candidata a reeleição – foi decidida pela eliminação de Leoninda do quadro de associados do sindicato. Esta eliminação do quadro de associados inviabilizaria que Leonilda disputasse a direção do sindicato. Mais grave, a chapa de oposição ficaria incompleta, o que seria motivo para a suspensão do seu direito de concorrer.
A chapa de oposição entrou na justiça. Os estatutos eram claros: antes de eliminar qualquer sócio era necessária a prévia notificação para que, se ele desejasse, apresentar sua defesa no prazo de 10 dias. Isso não aconteceu. A justiça concedeu um mandado de segurança que tornou nula a decisão de expulsar a companheira Leonilda, reintegrando-a ao quadro de sócios e confirmando as plenas condições do grupo de oposição prosseguir na disputa pela direção do sindicato.
A tentativa de impugnação da chapa
Com a proximidade das eleições, a direção do sindicato iniciou uma nova tentativa de abortar o processo eleitoral, entrando com pedido de impugnação da candidatura de vários membros da chapa de oposição, junto à Delegacia Regional do Trabalho. Estas impugnações acarretariam na cassação do direito da chapa concorrer na eleição.
Foram alegadas várias irregularidades, a maioria girando em torno do tempo de serviço na categoria e das demissões que impediriam a permanência no quadro de associados. A assessoria jurídica da Delegacia Regional do Trabalho analisou o processo e considerou infundadas as acusações. Com isso, mais uma vez, a chapa de oposição garantiu o direito de disputar as eleições democraticamente.
A eleição
Depois de muita disputa, a eleição aconteceu nos dias 19 e 20 de julho de 1984. A tensão era grande e a fiscalização extremamente necessária. O resultado das urnas anuncia uma virada:
Chapa 1 (antiga diretoria): 274 votos – totalizando 44,2%
Chapa 2 (oposição): 346 votos – totalizando 55,8%
Nulos: 3 votos
Brancos: 5 votos
Era necessário, porém, maioria absoluta dos votos para a eleição da nova diretoria. Sendo assim, somente um segundo turno poderia definir o vencedor. O segundo turno das eleições foi marcado para o dia 26 de julho, exigindo apenas maioria simples para declarar o vencedor. Este era o momento derradeiro, a definição entre o continuísmo e a mudança. Isso exigiu mobilização total do grupo de oposição, com o apoio de vários setores e entidades populares de Passo Fundo.
A mudança foi garantida pelas urnas. O resultado da eleição do dia 26 de julho reafirmou o desejo dos comerciários:
Resultado da segunda votação
Chapa 1 (diretoria): 228 votos
Chapa 2 (oposição): 324 votos
Nulos: 2 votos
Brancos: 1 voto
A antiga diretoria do sindicato não se conformou com o resultado da eleição e tentou novamente promover a impugnação do pleito, negando a opção que os comerciários fizeram através do voto. Finalmente, no dia 10 de setembro de 1984, a diretoria eleita para o sindicato assumiu suas funções, tendo como presidente Paulo Rigo e como secretária Leonilda Fernandes. Estes dois membros da direção, a partir da decisão tomada na Assembléia Geral Extraordinária, de 19/09/1984, tiveram liberação exclusiva para o sindicato, com o respectivo afastamento temporário das empresas em que trabalhavam.