Reformas preocupam mais metalúrgicos do que condenação de Lula
Sensação mais para indiferente do que indignada prevalecia em São Bernardo do Campo, berço político do ex-presidente, um dia após condenação do petista pelo juiz Sérgio Moro
Palco de greves nos anos 1970, São Bernardo do Campo, no ABC paulista, estava nesta quinta-feira, 13, mais para indiferente do que indignada com a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em primeira instância, no âmbito da Lava Jato. Nesta quarta-feira, 12, o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, sentenciou o petista a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Ao longo do dia, não houve manifestações de apoio nem de repúdio ao ex-presidente na frente do prédio onde mora, nem no sindicato que comandou e no qual se projetou nacionalmente como líder sindical nos anos 1970, nem nas portas das fábricas. Um misto de desilusão e fé entre os metalúrgicos definia a imagem de Lula no seu berço político.
A analista de sistemas de gestão da empresa no ABC Camila Dutra, de 28 anos, disse que comemorar a condenação de Lula não tem viés ideológico. “O que mais precisa de evidências para saber que ele cometeu algumas infrações? Tem muita evidência. Não é porque a gente não gosta do partido”, afirmou.
Empregado na fábrica desde os 14 anos, quando ainda era aprendiz, o engenheiro de produção Luiz Carvalho, de 37 anos, disse que não vota em Lula desde o mensalão. “O fato de ele ser de origem metalúrgica não significa que os preceitos que ele segue ou prega sejam os mesmos conceitos éticos que a gente acredita, com certeza não são”, afirmou. “Quando ele assumiu o poder, foi uma esperança para todos nós, mas, agora, para mim, perdeu o crédito total.”
Há metalúrgicos que minimizam a culpa de Lula, conforme sentenciou Moro. Mecânico montador, Luís Carlos, de 35 anos, é um deles. “Político nenhum é inocente, mas o que fizeram com ele aí, acho que o Brasil não gostou, não”, disse.
O técnico de segurança Édipo Alves, de 29 anos, disse que não votaria no ex-presidente, mas ressaltou que não está convencido de que ele é culpado. “A princípio não tem como saber se foi certo ou errado (a condenação). Ao meu ver, não tem provas suficientes ainda.”
Alves disse, ao fim da jornada na fábrica, que o tema foi pouco discutido ao longo do dia, o que também foi ressaltado pelo ajustador mecânico Vlanir Oliveira, de 51 anos. “O que mais está se comentando (na fábrica) hoje (quinta-feira) é a reforma trabalhista. O pessoal está mais preocupado com a reforma. Do Lula, teve repercussão quase nenhuma.”
Por Priscila Mengue, O Estado de S.Paulo
Fonte: Estadão