Pivô na queda de ministro, cloroquina não é recomendada por entidades médicas
O presidente tem feito uso político da substância, classificando-a como um “remédio salvador”
O Brasil chama a atenção do mundo pela irresponsabilidade de seus governantes na condução das ações de combate ao novo coronavírus. O principal responsável pelo cenário caótico é Jair Bolsonaro, que provocou a saída de mais um ministro da Saúde.
Um mês depois da saída de Luiz Henrique Mandetta, foi a vez de Nelson Teich deixar o governo, na sexta-feira (15), por discordâncias com o presidente em relação às estratégias contra a pandemia. Bolsonaro defende o uso massivo da substância cloroquina, mesmo sem comprovação científica da sua eficácia contra a covid-19.
Na segunda-feira (18), as três principais entidades que representam médicos de especialidades diretamente ligadas à covid-19, no Brasil, recomendaram que a cloroquina e a hidroxicloroquina não sejam usadas como tratamento de rotina da doença.
O texto está no documento Diretrizes de Tratamento Farmacológico da Covid-19, elaborado em consenso pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Sociedade Brasileira de Infectologia e da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.
Ao contrário do que diz Bolsonaro, estudos apontam que a cloroquina pode até levar à morte. Pesquisas realizadas na China dão conta de que, em alta dosagem, pode agravar condições de pacientes com doenças no coração.
Uso indevido de dinheiro público
O presidente tem feito uso político da substância, classificando-a como um “remédio salvador”, e usando dinheiro público para sua produção. Estima-se que os laboratórios das Forças Armadas têm produzido 1 milhão de comprimidos por semana.
Para se ter uma ideia, a produção nacional de cloroquina geralmente fica na casa das 250 mil pílulas a cada dois anos. Tamanha superprodução pode tornar-se descartável, caso fique comprovado que a cloroquina não é recomendada para o tratamento da covid-19.
Sem punição
Ciente de que poderia ser acusado na Justiça por torrar dinheiro do contribuinte na produção de um remédio ainda sem benefício comprovado, Bolsonaro se precaveu. No dia 14, ele editou a Medida Provisória 966, que isenta agentes públicos de punição por decisões tomadas durante a pandemia.
O texto, claramente inconstitucional, foi alvo de denúncia pelos partidos de oposição e poderá ser derrubado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Bolsonaro tem culpa direta nos estragos que a covid-19 tem feito no Brasil, com seu discurso contra o isolamento e a favor do uso em massa da cloroquina. Por isso, é necessário gritar: fora Bolsonaro e Mourão”, afirma o vice-presidente do Sindicato, Renato Almeida.
Fonte: sindmetalsjc.org.br