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Petroleiros e trabalhadores dos Correios apontam: luta contra privatizações é de todos

Os petroleiros estão em vias de iniciar  a greve da categoria contra a privatização da empresa e em defesa de seus direitos. Os trabalhadores dos Correios acabaram de sair de uma importante mobilização, com pautas similares e que serviram de espelho para diversos segmentos do país.  Essa categoria conseguiu realizar uma forte paralisação nacional, com a participação de todos os sindicatos e com balanço vitorioso, diante desse governo de ultradireita e ultraliberal de Bolsonaro, que joga ao lado dos patrões.

O que essas mobilizações têm em comum? Como a unidade de todos em defesa das empresas públicas e estatais deve ser construída? Por que a privatização reflete negativamente nos serviços prestados à população?

Essas e outras perguntas foram respondidas por dois trabalhadores, um dos Correios e outro da Petrobrás, empresas estão na mira do governo Bolsonaro para serem privatizadas.

A Petrobras é nossa!

Não é novidade que a Petrobras está no radar do governo para ser privatizada.  A maior estatal brasileira pode ser vendida até o final do mandato de Bolsonaro e isso tem animado as multinacionais estrangeiras do setor e os especuladores da Bolsa de Valores, de olho nos lucros que terão caso esse crime lesa-pátria se confirme. O ministro da Economia Paulo Guedes deu declarações em meados de agosto de privatizar empresas públicas, e de que pelo menos 17 estatais estariam na lista.

Se existe essa ameaça iminente por parte de Bolsonaro de privatizar a Petrobras, somado a projetos já implementados por governos passados, e que gradativamente desmontam esse patrimônio, há uma luta constante por parte dos trabalhadores em não permitir que isso aconteça.

O petroleiro Eugênio Américo Ramma de Macedo, que é técnico em operação há 30 anos na refinaria Gabriel Passos, em Minas Gerais, e  que compõe a Oposição de Petroleiros, Grupo de Base Tocha, salientou que a tentativa de privatizar a Petrobras existe desde sempre. Foram fechadas várias subsidiárias, e essa sequência de ataques vem desde o governo de Fernando Henrique Cardoso.

“De lá para cá, outros ataques ocorreram, porque o governo Lula implementou a entrega de parte do pré-sal, o governo Dilma seguiu esse projeto e já havia iniciado a tentativa de privatização das refinarias, inclusive, a que eu trabalho,  no ano de 2015, mas que conseguimos impedir”, conta.

De acordo com o petroleiro, no governo Bolsonaro esse ataque é mais descarado e fere os princípios legais.

Segundo Macedo, as bases de refinarias de petróleo e exploração estão sendo vendidas a um preço que não chega  a 2% do seu valor real de mercado, e por trás dessa venda há muita corrupção.

Como isso afeta a população brasileira?

A entrega da Petrobras e subsidiárias para a iniciativa privada fará com que os preços já altos do gás de cozinha, por exemplo, possam ficar ainda mais abusivos.

“O gás de cozinha, que já tem um preço absurdo, poderia estar sendo vendido por R$ 12, mas é vendido em alguns estados a até R$ 80, ou mais. Várias famílias passaram a cozinhar com lenha, com álcool, porque não conseguem pagar o botijão de gás”, exemplifica Macedo.

“A gente sabe que se não fizermos nada, nós vamos perder todo esse patrimônio que é o refino do país. Se isso é entregue para a iniciativa privada, dispara o preço do combustível, diesel, e vai chegar ao ponto que não haverá mais condição de os trabalhadores arcarem com os custos”, opina.

Terceirizar é precarizar

O petroleiro destaca ainda a abertura da empresa para contratação terceirizada, categoria que é mais precarizada e explorada. “Quando eu entrei na refinaria, a maior parte dos trabalhadores era concursado, a empresa, no entanto, fez uma tática de considerar que alguns setores não eram de atividade principal e foi terceirizando serviços”, explica.

Macedo revela que a contratação via terceirização é uma forma de repassar o dinheiro da Petrobras para empresas privadas que trabalham com serviços específicos, mas que pagam salários humilhantes e exploram esses trabalhadores.

Na mesma linha de desmonte, a Petrobras já começa a reduzir o número de empregados em diversas unidades pelo país. “Temos a previsão de demissão de 2 mil  trabalhadores terceirizados na Bahia, assim como em Sergipe”, aponta.

Pela soberania do país

Boa parte das ações da Petrobras já está nas mãos de acionistas privados, o que deixa o cenário mais difícil. Ainda assim o governo ainda possui 50% deste montante, o que ainda garante o controle, a gestão da exploração e do refino em  suas unidades.

Além disso, o petroleiro destaca que o Brasil está abrindo mão desse seu patrimônio, com a entrega do pré-sal, de refinarias, e tudo a preço de banana, sem nenhuma discussão, com o apoio do Congresso Nacional e com o silêncio do STF (Superior Tribunal Federal).

Macedo reconhece que poucos movimentos estão comprando essa briga e que a CSP-Conlutas é uma das entidades que se diferencia, e que sempre pauta a defesa da Petrobras e a luta contra as privatizações.

“Uma das poucas entidades hoje que a gente vê que está lutando coerentemente contra a privatização da Petrobras é a CSP-Conlutas. Por isso, nosso objetivo é fortalecer cada vez a Central e chamar as outras centrais e as outras federações a se unirem nesta luta, muito maior, que é pela proteção do patrimônio da soberania nacional”, explica.

Trabalhadores dos Correios foram à luta, fizeram greve e dão o exemplo

Se a greve dos petroleiros está prestes a sair, o exemplo da importante paralisação dos trabalhadores dos Correios foi apontado por Macedo como inspiração.

“Os trabalhadores dos Correios acabaram de sair de uma greve, muitas categorias, de alguma maneira, se espelharam nesse movimento. A greve foi unificada com todos os sindicatos nacionalmente, isso assustou a empresa,  o governo e fez com que voltasse para negociação, e garantisse a prorrogação do acordo coletivo”, aponta Macedo.

O trabalhador dos Correios de São Paulo Fernando Prone, o Urso, que compõe a Oposição e está construindo a CSP-Conlutas, concorda com Macedo sobre importância da unidade, o que na greve dos Correios foi fundamental.

“Essa foi a primeira categoria que faz um enfrentamento nacional com o governo Bolsonaro e que temporariamente conseguiu uma vitória”, argumenta.

Sobre servirem de exemplo para outros segmentos, como o de petroleiros que podem entrar em greve a qualquer momento, Urso foi categórico. “A gente passa e os petroleiros nos dizem que a nossa luta foi um exemplo. Isso anima outras categorias a lutarem também, porque os trabalhadores dos Correios demonstraram que é possível”.

Unidade, greve e a defesa dos Correios contra a privatização

A greve deste segmento foi em setembro e durou sete dias. O movimento foi forte, com intensa participação dos trabalhadores o que obrigou o TST (Tribunal Superior do Trabalho) a julgar o dissídio, cuja decisão foi favorável para a categoria.

“Conseguimos manter as cláusulas sociais por dois anos, o que dá um fôlego para gente lutar contra as ataques que vem aí, principalmente a questão da privatização. Na campanha salarial, conseguimos, após a pressão da greve, uma porcentagem de aumento, que foi de 3%, e a proposta do governo era de 0,8%”, elencou Urso.

Greve pela base

Os trabalhadores passaram por cima, inclusive, das direções de sindicatos que estava colocando freio na luta, mas que foram obrigadas a tocar o movimento. “Essas direções fazem o balanço que saímos vencedores por causa das negociações por cima, quando na verdade o sentimento do trabalhador foi ao contrário, a greve foi construída por baixo. As direções alegavam que a conjuntura era difícil e colocavam os trabalhadores derrotados, e a gente demonstrou com essa greve que os trabalhadores têm disposição de luta”, aponta Urso.

Desmonte não é de hoje

Assim como acontece na categoria petroleira, Urso revela que também nos Correios os ataques são de governos passados e seguem neste com mais força.

A criação no governo do PT do Postal Saúde, com uma administração por fora dos Correios é um desses ataques. Após sua criação, veio a discussão da mensalidade, a retirada de pai e mãe do benefício, e agora mais fortemente a privatização da empresa.

A luta contra a privatização nos Correios e na Petrobrás

Urso destaca que na campanha salarial não houve apenas a reivindicação por aumento salarial, mas também, e não menos importante, a luta contra a privatização, que segue, mesmo após o fim da greve, e se tornou permanente.

“A gente tá passando abaixo-assinados e fazendo alguns atos públicos nas regiões, e é um passo importante para a gente colocar a discussão na sociedade. Temos uma meta de colher um milhão de assinaturas e vamos encaminhar para Brasília e fazer uma pressão tanto no Congresso, quanto na empresa”, salienta.

Segundo Urso, caso os Correios seja privatizado a população também perde.  “A empresa tem muito trabalho social. Por exemplo, em todos os municípios os Correios estão, e com esse serviço privatizado a tendência é de ser mantida apenas a parte que dá lucro. Na periferia, onde tem o índice de assalto de encomendas é alto, as empresas não vão querer entregar, ou vão cobrar mais pelo serviço”, aponta.

Urso explica que em alguns países, cujo o serviço foi privatizado,  estão discutindo de reestatizar, porque reduziu o atendimento à população, como é o caso de Portugal.

Trabalhadores dos Correios e petroleiros em luta contra a privatização

O trabalhador dos Correios Urso e o petroleiro Macedo reconhecem que as lutas não podem ser isoladas e devem alcançar a todos os segmentos e outras empresas estatais que também estão ameaçadas de serem privatizadas.

“A gente sabe que se não tiver uma luta junto com outros trabalhadores de empresas que estão ameaçadas de privatização, como é o caso da Petrobras, como é o caso da Eletrobras, a gente não vai ser vitorioso, é preciso envolver todos os setores estão sendo atacado”, reforça Urso.

Macedo concorda e aponta que esse movimento de unidade é a chave para barrar ataques. “É preciso unificar outras categorias e outros segmentos. Ainda há o vacilo de algumas direções que não permite que isso aconteça, mas não podemos desistir da batalha maior que é justamente construir uma unidade nacional, pela base”.

Entrevistas feitas durante o 4° Congresso da CSP-Conlutas, realizado de 3 a 6 de outubro, em Vinhedo (SP)
Fonte: CSP Conlutas

 

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