Em Roraima, entidades divulgam carta em repúdio à xenofobia contra venezuelanos e cobram governos
Representantes de várias entidades civis realizaram nesta sexta-feira (23), em Boa Vista (RR), uma coletiva à imprensa em que se posicionaram sobre a situação da imigração de venezuelanos no estado. Em carta aberta, cerca de 30 entidades repudiam os casos crescentes de xenofobia e cobram ações dos governos.
A coletiva aconteceu no Salão Nobre da Diocese de Roraima e contou com a presença do bispo Dom Mário Antônio da Silva, do representante da Ordem de Ministros Evangélicos de Roraima, entre outros. O operário da construção civil Lourival Ferreira, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e do Mobiliário de Roraima (Sintracomo), filiado à CSP-Conlutas, participou da coletiva e falou do posicionamento da entidade.
Em sua fala, Lourival repudiou ataques ocorridos nas últimas semanas contra venezuelanos, destacando que é preciso compreender que os refugiados que chegam ao país também são trabalhadores que passam por dificuldades. “O problema não são os imigrantes, mas esse sistema capitalista que destroi a nós trabalhadores. São seres humanos, pais e mães de família que estão aqui em busca de ajuda e não podem ser tratados diferentes”, disse Lourival.
Leia notas da CSP-Conlutas:
É necessário garantir condições para a permanência dos refugiados venezuelanos no Brasil
Nenhum ser humano é ilegal! Todo apoio e solidariedade aos imigrantes venezuelanos
Este ano, já ocorreram agressões, expulsões e incêndios criminosos contra famílias de venezuelanos que buscam abrigo no Brasil, principalmente em cidades onde tem sido grande o fluxo de refugiados, como Boa Vista, Pacaraima e Mucajaí. No mais recente, no dia 19 de março, um grupo de 300 brasileiros expulsou cerca de 200 venezuelanos de um abrigo na capital de Roraima e queimou os pertences das famílias.
Na madrugada 8 de fevereiro, um incêndio intencional feriu três pessoas de uma mesma família venezuelana, incluindo uma criança de 4 anos. O crime se assemelha a outro praticado quatro dias antes na capital Boa Vista.
O bispo da diocese de Roraima, Dom Mário Antonio da Silva, destacou que é preciso repudiar à xenofobia, que incita o ódio e a violência. “A chegada dessas famílias mudou a cidade, o dia a dia, mas isso implica em acolhimento e acompanhamento para resolver. Eventuais situações de dificuldade não dá o direito de desrespeitá-los e piorar ainda mais a situação de vulnerabilidade social”, disse o bispo.
“O que está aflorando com a presença dos imigrantes, possivelmente é o que já estava faltando para a população brasileira e agora nos aparece como mais nitidez”, afirmou Dom Mário, que cobrou ações coordenadas das três esferas de poder no país. “Após tantos anúncios por parte do governo federal sobre ajuda, é preciso mais rapidez e efetividade nessa ajuda”, cobrou.
Para as entidades, a omissão do Estado diante da grave situação em que milhares de pessoas se encontram, por meio do não atendimento das suas necessidades básicas como alimentação, abrigo, medicamentos e segurança, agrava ainda mais a situação e contribui para a xenofobia. A resposta tem sido insuficiente e desarticulada, criando uma atmosfera de desinformação e temor em parte da população em Roraima.
“A notável ausência de iniciativas humanitárias eficientes e coesas, por parte dos poderes públicos e a desarticulação entre si, não podem mais alimentar um ambiente de incerteza e medo na sociedade local, que, consequentemente, contribui para o surgimento de comportamentos xenofóbicos e de incitação à violência”, afirma trecho da carta.
Nos últimos meses, famílias venezuelanas tem saído do seu país devido à severa crise política, econômica e humanitária. Além da instabilidade política e violência, a fome e a falta de medicamentos levam milhares a deixarem a Venezuela em busca de sobrevivência. Nessa travessia, feita muitas vezes a pé, muitos estão expostos à exploração, discriminação, abusos e outras violações de direitos humanos.
A CSP-Conlutas de Roraima tem buscado realizar um trabalho junto aos imigrantes, principalmente através do Sintracomo. A reunião nacional da Coordenação da CSP-Conlutas realizada, de 9 a 11 de março, também aprovou uma resolução para organizar desde já uma campanha de solidariedade ativa com os refugiados venezuelanos, que deverá incluir materiais de divulgação como cartilha e vídeo, a ida de uma caravana e ajuda financeira.
Confira a carta assinada por 35 entidades da sociedade civil: