Crescem relatos de violência sob gritos de “Aqui é Bolsonaro” em várias partes do país
Menos de uma semana depois do capoeirista Moa do Katendê ter sido assassinado em Salvador (BA) por um eleitor de Bolsonaro, após ter dito que havia votado no PT, novos casos chocam pela violência e intolerância. Nesta terça-feira (9), um estudante da Universidade Federal do Paraná, que usava um boné do MST, foi atacado por um grupo de homens aos gritos de “Aqui é Bolsonaro”.
Segundo testemunhas, cerca de 15 pessoas, vestidas com a camisa da torcida da Império, do Coritiba, atacaram o jovem aos gritos de “Aqui é Bolsonaro”. “De repente, o rapaz de vermelho levou um soco e quando isso aconteceu todo mundo da torcida começou a quebrar garrafas e ir para cima do cara. Uma covardia”, disse a um jornal local uma estudante que não quis se identificar.
De acordo com outra testemunha, as agressões não foram piores, pois os estudantes que estavam no local interviram, e ajudaram o homem agredido. “Começou um barulho, a galera se estranhou e aí os caras começaram a ir pra cima dele, a bater nele. De repente, pegaram garrafa de bebida e começaram a tacar nele. A multidão se juntou e protegeu, ate umas meninas ajudaram a ficar na frente”, relatou.
Na ação, alguns vidros da Biblioteca Central da Reitoria foram quebrados. A Polícia Militar foi chamada para atender a ocorrência, mas não encontrou os agressores quando chegou ao local.
Mais casos
Infelizmente, os relatos nos últimos dias não param por aí. Também no domingo, uma jornalista em Recife (PE), prestou queixa na polícia informando ter sido atacada por homens ao sair do colégio onde havia votado.
Depois de terem visto seu crachá, os indivíduos – um deles com uma camiseta de Bolsonaro- chamaram-na de “riquinha de esquerda”, agrediram-na e ameaçaram estuprá-la, segundo contou. Quando um carro passou buzinando, os criminosos fugiram do local e a jornalista foi às autoridades. O caso foi relatado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que registrou 137 episódios de agressão de profissionais da comunicação ao longo de 2018 “em contexto político, partidário e eleitoral”.
Relatos de pessoas LGBTs também começam a se propagar pelas redes sociais e na imprensa. Matéria no UOL traz depoimentos, como da designer de animação Larissa, que contou que ao entrar no metrô em SP, um dia depois da eleição, um homem parou na sua frente e gritou, apontando o dedo. “‘Lésbica imunda, sua raça vai acabar, vocês vão morrer’. Travei. Ainda eram 8h40, olhei para a cara dele, que terminou: ‘Bolsonaro presidente’. Algumas pessoas se aproximaram e começaram a questioná-lo, e ele foi embora. Ataques assim são comuns para nós LGBTs, mas, nos últimos dias, está pior.”
Outro caso ocorrido foi com a irmã da vereadora executada no Rio de Janeiro, Marielle Franco. Em sua rede social, ela contou que andava perto de um shopping com sua filha de dois anos no colo, quando homens vestidos com a camiseta de Bolsonaro começaram a chama-la de “piranha”, “esquerda de merda” e “sai daí feminista”.
No Rio, em Nova Iguaçu, uma mulher trans, foi agredida com golpes de barra de ferro na cabeça e no pescoço, chutes e socos pelo corpo. De acordo com O Dia, ela estava sozinha quando ouviu ambulantes gritando “Bolsonaro vai ganhar para acabar com os veados, essa gente lixo tem que morrer”.
Uma jovem, em Porto Alegre (RS), disse ter sido abordada e agredida por três homens por causa de uma camiseta com a frase “Ele não”. De acordo com a garota, que não teve seu nome revelado por questões de segurança, o grupo a atingiu com socos e usou um canivete para desenhar uma suástica em sua barriga.
Um levantamento inédito realizado pela agência Pública em parceria com a Open Knowledge Brasil revela que houve pelo menos 50 ataques nos últimos 10 dias no país, a ampla maioria provocada por eleitores e apoiadores de Bolsonaro.
Conhecido por declarações preconceituosas contra mulheres, negros e LGBTS, por simular com as mãos constantemente o uso de armas contra opositores e por defender a ditadura militar e a tortura, especialistas avaliam que o discurso de ódio e intolerância de Bolsonaro legitima e estimula setores extremistas a tais atitudes.
Contudo, questionado pela imprensa sobre o assassinato de Moa do Katendê e episódios de violência envolvendo seus eleitores, Bolsonaro alegou que lamentava, mas que “não tinha nada a ver com isso”. Que ele havia levado uma facada, e que, portanto, que a violência vinha do “outro lado”.
A resposta tem sido criticada. Para o doutor em Direito Henrique Abel, a resposta de Bolsonaro às agressões foi insuficiente e “mostra um desinteresse da parte dele em orientar seus seguidores”. Algo que, em sua opinião, seria muito fácil fazer. Bastaria “estabelecer uma diretriz, que teria um impacto psicológico muito importante” entre seus eleitores mais radicalizados, disse ao jornal El País.
“Ele prefere sair com uma evasiva. Então, sim, há uma responsabilidade. Não diretamente, mas ele é considerado um símbolo e legitima práticas e condutas ilícitas ou abertamente criminosas, como dizer que ele iria ‘fuzilar a petralhada’ do Acre”. E acrescentou: “Mesmo que em um eventual governo ele não chegue a dar uma ordem de matar ou torturar alguém, o simples fato de simbolicamente legitimar essas práticas representa, aos olhos de quem será governado por ele, uma interpretação de que passam a ser permitidas. E de que não há nada de errado com elas”.
Com informações UOL, El País e Tribuna do Paraná, APublica
Fonte: CSP Conlutas