As mortes do ebola: combater doença de negros e pobres não dá lucro!
A indústria farmacêutica continua dizendo que a pesquisa para a cura da doença se mostra “economicamente ineficaz”
O continente africano está vivendo a pior epidemia de ebola da história. Segundo dados oficiais, cerca de 1.500 pessoas já morreram vítimas do vírus.
A grande suspeita levantada é que esta doença mortal não tem sido combatida como deveria por governos e laboratórios farmacêuticos, sobretudo, porque suas vítimas, em sua imensa maioria, são negros e pobres. É uma das faces mais cruéis do capitalismo, já que a saúde é vista como fonte de lucros.
O professor belga Peter Piot, um dos responsáveis pela descoberta do vírus ebola em 1976, criticou nesta terça-feira, dia 26, a “extraordinária lentidão” da Organização Mundial da Saúde (OMS) na adoação de medidas para combater a epidemia.
“A epidemia explode em países onde os serviços de saúde não funcionam, devastados por décadas de guerra. Além disso, a população desconfia radicalmente das autoridades”, disse o especialista ao periódico francês Libération.
Tratamentos distintos
Mesmo diante de tamanha epidemia, as indústrias farmacêuticas continuam a afirmar que a pesquisa para a cura se mostra “economicamente ineficaz”. Por ser uma doença de rara aparição e possuir um foco regional em países de baixíssima renda, a produção de remédios e vacinas contra o vírus não promete retornos financeiros e, portanto, não desperta a atenção dos empresários.
Enquanto isso, doentes são confinados e segregados em cordões sanitários, com alto índice de mortalidade. Parece filme de ficção. Mas, infelizmente, é realidade.
E não é só. Médicos e estrangeiros atingidos pela doença recebem tratamento diferenciado. Dois americanos infectados na Libéria foram transferidos aos Estados Unidos, estão sendo tratados com uma droga experimental e vêm apresentando melhoras. Porém, os africanos não tiveram acesso a esse experimento.
“Por que tinha remédio para os dois americanos, mas não tem para gente, africanos?”, disse Mamadu Bah, funcionário de um hotel em Serra Leoa, à jornalista Patrícia Campos Mello.
A repórter escreveu um artigo sobre “a terra que o mundo esqueceu”, onde relata: “Todo mundo aqui está em pânico. Ninguém sabe bem como pega, como se prevenir.”
Em seu texto, Mello acerta em cheio os empresários que lucram com a vida (ou a morte): “O ebola faz parte das chamadas “doenças negligenciadas” –que atingem só gente pobre–, então não interessam para as indústrias farmacêuticas. Se elas podem lucrar com Viagra e remédio de colesterol, por que iriam investir em pesquisa para malária e ebola?”.
Saiba mais
Se contraído, o ebola é uma das doenças mais mortais que existem. É um vírus altamente infeccioso que pode matar mais de 90% das pessoas que o contraem, causando pânico nas populações infectadas.
Desde o começo do ano, a enfermidade já atingiu mais de 2.600 pessoas em países do continente africano, como Serra Leoa, Libéria, Guiné-Conacri e Nigéria. Antes deste surto, apenas 1.500 pessoas tinham sido diagnosticadas com o ebola nos últimos 37 anos.
O vírus é transmitido por contato direto com fluidos corporais e sangue infectados. A doença causa hemorragias graves e é fatal em 90% dos casos, pois não existe cura e nem vacina para combater o vírus.